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Capítulo 11 – Ensinamento que apresenta as Seis Perfeições#

Os preceitos sobre o cultivo da boditchita da aplicação se dividem em três treinamentos sublimes: disciplina, repouso da mente e sabedoria. Nesse sentido, a Tocha Para o Caminho da Iluminação afirma:

A pessoa que mantém o voto
da boditchita da aplicação,
praticando corretamente os preceitos
dos Três Treinamentos,
terá grande reverência por eles.

O treinamento sublime da disciplina se divide em três: generosidade, disciplina e paciência. O treinamento sublime da mente é a concentração. O treinamento sublime na sabedoria é a (perfeição da) sabedoria. A diligência é um aspecto que acompanha os três treinamentos. Sobre isso, o Ornamento dos Sutras Mahayana menciona:

O Vitorioso explicou perfeitamente as Seis Perfeições
no contexto dos Três Treinamentos.
O primeiro treinamento
são as três primeiras perfeições.
Os dois últimos são as duas últimas,
e a que sobra está contida nos três.

Assim, o resumo é:

Generosidade, disciplina, paciência,
diligência, concentração e sabedoria.
Estes seis aspectos resumem o que é treinado
no cultivo da boditchita da aplicação.

O Sutra Solicitado por Subahu também afirma:

Subahu, para uma grandiosa e heroica pessoa bodisatva rapidamente realizar a iluminação completa de fato, essas Seis Perfeições devem ser aperfeiçoadas continuamente, o tempo todo. Quais são as seis? São elas: a perfeição da generosidade, da disciplina, da paciência, da diligência, da concentração e a sexta, a perfeição da sabedoria.

Essas Seis Perfeições devem ser compreendidas tanto em uma visão geral quanto na explicação detalhada de cada uma.

O resumo da visão geral é:

Enumeração, ordem, características,
definição, subdivisões e agrupamentos.
Estes seis pontos resumem as Seis Perfeições.

1. Enumeração#

O número definido das perfeições é seis. Em termos de existências superiores e o bem definitivo (da liberação), três delas levam a existências superiores, e as outras três levam à liberação.

Entre as que levam a existências superiores, a generosidade traz prosperidade, a disciplina leva a uma existência física plena, e a paciência traz condições favoráveis ao redor.

Entre as perfeições que levam à liberação, a diligência multiplica as qualidades, a concentração permite o calmo repouso (shamata), a sabedoria leva à visão excelente (vipashyana).

Sobre isso, o Ornamento dos Sutras Mahayana diz, entre mais referências:

Bens, corpo físico e arredores excelentes
constituem uma existência superior...

2. Ordem das seis perfeições#

A ordem das Seis Perfeições é a sequência em que elas nascem no contínuo mental. A generosidade que não objetiva bens materiais possibilita perfeitamente a disciplina. Com disciplina, haverá paciência. Com paciência, há habilidade para aplicar diligência. Ao aplicar diligência, surgirá concentração meditativa. Ao repousar em equilíbrio meditativo, haverá lucidez profunda sobre a realidade do modo como ela é.

Alternativamente, a sequência das perfeições vai da menor para a maior. As perfeições “menores” são as apresentadas antes. As que residem em níveis “maiores” são as apresentadas depois.

Ou então, a sequência parte das perfeições mais óbvias para as mais sutis. As mais óbvias e fáceis de praticar são apresentadas antes. As sutis, cada vez mais difíceis de aplicar, são ensinadas depois.

Sobre isso, o Ornamento dos Sutras Mahayana diz:

As (perfeições) posteriores
surgem com base nas anteriores.
Já que há maiores e menores, óbvias e sutis,
elas seguem essa sequência.

3. Características#

Há quatro aspectos nas características das perfeições — generosidade etc — de bodisatvas: elas enfraquecem as condições desfavoráveis, dão nascimento à sabedoria primordial não conceitual, realizam todas as aspirações e amadurecem completamente seres sencientes nos Três Veículos. Sobre isso, o Ornamento dos Sutras Mahayana diz, entre mais menções:

A generosidade danifica condições desfavoráveis,
traz sabedoria primordial não conceitual,
realiza perfeitamente todos os desejos,
e amadurece seres sencientes de três maneiras.

4. Definição das Seis Perfeições#

Sobre as definições das Seis Perfeições, já que erradica a miséria, (a 1ª) é generosidade1; já que produz frescor2, (a 2ª) é disciplina; já que cria tolerância em relação à agressividade, (a 3ª) é paciência; já que gera aplicação naquilo que é sagrado, (a 4ª) é diligência; já que firma a mente internamente, (a 5ª) é concentração; já que gera lucidez sobre o absoluto, (a 6ª) é sabedoria.

Já que elas levam para além do ciclo de sofrimento, são perfeições3. Sobre isso, o Ornamento dos Sutras Mahayana diz:

Elas são chamadas assim pois
há erradicação da miséria, produção de frescor,
tolerância com a raiva, aplicação no sagrado,
firmeza mental e lucidez sobre o absoluto.

5. Subdivisões#

Há seis subdivisões para cada perfeição — por exemplo, generosidade da generosidade, disciplina da generosidade etc — totalizando 36 aspectos. Sobre isso, o Ornamento da Realização diz:

Generosidade e tudo mais, cada uma também são seis.
Através desse conjunto, a armadura da prática é explicada: cada uma das seis tem mais seis aspectos.

6. Agrupamentos das Seis Perfeições#

As Seis Perfeições são agrupadas conforme as duas acumulações. Generosidade e disciplina se referem à acumulação de mérito. Sabedoria se refere à acumulação de sabedoria. Paciência, diligência e concentração estão nos dois grupos. Sobre isso, o Ornamento dos Sutras Mahayana afirma:

Generosidade e disciplina acumulam mérito.
Sabedoria acumula sabedoria.
As outras três acumulam ambas.

Este foi o “Capítulo 11 – Ensinamento que apresenta as Seis perfeições”, do Ornamento da Liberação Preciosa, o Dharma Sagrado que é Como Uma Joia que Realiza Desejos.


1 As definições se baseiam na etimologia das palavras em sânscrito: dana (generosidade; tib.: sbyin pa), shila (disciplina, tshul khrims), kshanti (paciência, bzod pa), virya (diligência, brtson ‘grus), dhyana (concentração, bsam gtan), prajna (sabedoria, shes rab).

2 Frescor em relação à queimadura das aflições.

3 A palavra “perfeição” está sendo usada para traduzir o tibetano “pha rol tu phyin pa” (sânsc.: paramita), que literalmente significa “ir para o outro lado”, ou seja, a partir do samsara chegar à realização da budeidade. Outra possível tradução é “transcendência”.